22 de novembro de 2017

Lima 3


Enquanto estava naquele bar à conversa com o Pedro fui trocando olhares com uma das empregadas que, não sei porquê, achei que estava a engraçar comigo. Quando o Pedro decidiu, perto das seis e meia da tarde, com uma pedrada de coca de caixão à cova, que era altura de ir à rua ver por onde andava a família, eu, embalado com a confiança que a mistura da coca e do “Pisco Sour” me estavam a dar,  levando-me até a crer que uma miúda nova e gira pudesse achar alguma graça a um velho, fui ter com a rapariga e perguntei-lhe a que horas saía e se não queria ir dar uma volta comigo. Fiquei espantado quando ela disse logo que sim e que sairia dentro de um quarto de hora. Fiquei pela mesa delas à conversa e quando saímos e viu a moto à porta do Hotel pediu se podíamos ir dar uma volta mas respondi-lhe que não estava em estado de guiar.
Demos uma pequena volta pela praça e, mais surpreendido fiquei  quando, ao lhe propor que fôssemos até ao meu quarto de Hotel ela respondesse logo que sim, com a maior das naturalidades.
Quando estávamos quase no acto a realidade veio ao de cima, como que a acordar-me de um sonho.
- Falta uma coisa, disse-me ela.
- O quê? Dinheiro?
- Sim.
Claro. Que grande anjinho em que a mistura de álcool e droga me tinha transformado.
- Sim, já te dou 50 Soles quando sairmos.
- Não. Tem que ser agora.
É daquelas coisas que normalmente fazem um homem de sessenta anos perder o entusiasmo mas, felizmente, paguei-lhe e, aguentei-me à bronca.
Perguntei-lhe depois se não queria ficar a dormir mas disse-me que  não, que não tinha trazido roupa.
Saímos então a pé até casa da amiga, com quem tinha combinado encontrar-se, e fomos os três jantar. Apanhei depois um táxi de volta ao Hotel. Naquela noite, ainda sob o efeito da coca, custou-me adormecer.
Quando acordei tinha uma mensagem da Sofia no telemóvel. “Francisco, vem ter ao Rustibar”. Fui lá almoçar e propus-lhe voltarmos a sair, ao que ela voltou a responder rapidamente que sim.
- É hoje que vamos passear de moto?
- Não, que não tenho outro capacete.
Fomos ao cinema, ver um filme peruano péssimo, muito infantil, mas que ela adorou e onde se fartou de rir.
Depois voltamos para o Hotel e voltei a pagar-lhe, desta vez antes que me pedisse.
Perto das dez da noite decidimos sair para jantar mas, quando fui à casa de banho e ela continuou a falar comigo a partir do quarto em que eu mal percebia o que estava a dizer, achei estranho. Quando saí da casa de banho, como que por instinto, fui verificar a bolsa onde tinha dinheiro em moeda estrangeira, o equivalente a 200 dólares. Estava rapada.
-Não devias ter feito isso, Sofia?
-O quê?
- Roubaste-me o dinheiro
-O quê? Estás doido? Juro que não. Só pode ter sido alguém do Hotel.
Mas eu sabia que tinha sido ela.
- Foste tu, Sofia.
- Estás doido. Estou mesmo ofendida. Vou-me embora.
E abriu a porta e arrancou.
- Sofia, volta.
Mas já ia escadas abaixo. Não quis fazer um escândalo nem agarrá-la
Mandei uma mensagem à amiga: “A tua amiga roubou-me quando eu estava na casa de banho. Se não vier até às dez da manhã devolver-me o dinheiro faço queixa na polícia e ao dono do Bar.”
Saí para jantar e quando voltei tinha uma mensagem da Sofia escrita num papel: “Estou mesmo ofendida, Francisco. Não paro de chorar” E assinava com o nome e o desenho de um coração.
Na manhã seguinte nada se passou e às dez da manhã liguei à amiga, mais velha s sensata. Ela disse-me que a Sofia não tinha aparecido e que não a conhecia tão bem para saber que isso se poderia ter passado. Meia hora depois ligou-me a Sofia a pedir se podia ir ao Hotel falar comigo.
Eu entretanto tinha contado a história ao rapaz da recepção que me disse:
-Você foi-se meter nesse bar? Que disparate. Aquilo é um antro. Ás vezes temos que ir lá buscar turistas que estão aqui hospedados e trazê-los de rastos de volta ao Hotel.
Estava eu a dizer à Sofia que só valeria a pena vir se me trouxesse o dinheiro e o rapaz a dizer-me por trás:
- Deixe-a vir de qualquer forma que quando cá estiver fechamos a porta e chamamos a polícia.
Passada meia hora chegou a Sofia. Pediu-me desculpa a chorar, devolveu-me o dinheiro, disse-me que não sabia o que lhe tinha passado pela cabeça, que nunca tinha feito aquilo e quis até devolver-me o dinheiro que lhe tinha pago por sexo. Pediu-me se a acompanhava até ao autocarro e se me podia voltar a ver essa tarde. Levei-a ao autocarro mas só a quis voltar a ver antes de partir, na manhã seguinte, quando passei no bar a despedir-me.

2 comentários:

  1. Sem filtros! Numa era do politicamente correto, é bom ler uma história sem rodeios. Continue, estou a adorar a sua Aventura!

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